Câmara Municipal de Pato Branco realizou o evento “Vozes Femininas Negras e Migrantes: Identidade e Representatividade em Pato Branco”

por Laiane Carniel publicado 12/03/2025 18h05, última modificação 12/03/2025 18h02
Manifestações artísticas, debates, compartilhamento de vivências e propostas de ações para o Poder Público marcaram o encontro

Promovido pela Procuradoria da Mulher da Câmara Municipal, em parceria com o Coletivo Identidade Preta, com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) - Campus Pato Branco e com a Secretaria Estadual da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa (SEMIPI), foi realizado, na terça-feira (11), o encontro “Vozes Femininas Negras e Migrantes: Identidade e Representatividade em Pato Branco”. O evento tinha como objetivo promover o diálogo sobre os desafios, conquistas e perspectivas da mulher negra e da mulher migrante no município. Além disso, ampliar o debate sobre racismo e machismo estrutural no município, discutir Políticas Públicas voltadas à equidade racial, de gênero e inclusão de migrantes e, ainda, fortalecer o diálogo entre sociedade civil e Poder Público.

Manifestações artísticas

O evento teve início com a manifestação artística de Gabriela Monteiro, a Maresia, que declamou a poesia “Hoje eu me levantei”, a apresentação de Maresia deu o tom do encontro, que envolveu debates, apresentações culturais que emocionaram os presentes, compartilhamento de vivências e organização de ações de fortalecimento pelo Poder Público. Entre as falas dos convidados, o cantor e compositor, Alisson Marcos cantou duas músicas autorais, uma delas - “Maria, Maria” - dedicada à sua mãe. A Banda Choro Brasilis interpretou a música “Mulheres”, de Martinho da Vila, na versão de Samba que elas querem, de composição de Doralyce Gonzaga e Silvia Duffrayer, a Banda também tocou “Alguém me avisou”, de Dona Ivone Lara.

  

Procuradoria e Câmara Municipal

A procuradora da Mulher da Câmara Municipal, vereadora Anne Gomes (PSD), fez a abertura do encontro agradecendo a presença e o envolvimento de todos. “Celebramos o mês da mulher com este evento, onde damos voz a diversas mulheres. Desde que assumi a Procuradoria da Mulher, sabia que seria um caminho desafiador e este encontro é apenas o começo de muitos passos que daremos. Acredito na importância de debater essas pautas com leveza e respeito, para que todos possam se sentir ouvidos e respeitados e, assim, que Políticas Públicas possam ser construídas em conjunto”.

Na sequência, o presidente da Casa, vereador Lindomar Brandão, (PP) e a vereadora Thania Caminski (PP), também se manifestaram. “Me comprometi em fazer este ano, o ano das mulheres na Câmara e nós estamos trabalhando para apoiar essas ações para que isso se torne fato e já estamos muito felizes com os resultados que estamos tendo no Legislativo”, afirmou o presidente Brandão. “Estou muito feliz em ver a Casa cheia, pois essa pauta é muito importante e precisa ser debatida. A presença de cada um e a vinda de vocês, com esses Movimentos, é que fará toda a diferença”, conclui a vereadora Thania.

O vereador Claudemir Zanco (PL) que, atualmente, também é presidente da Associação das Câmaras Municipais do Sudoeste do Paraná (ACAMSOP), também enalteceu a importância do encontro. “É um prazer ver a Casa cheia e discutir a questão racial pela primeira vez em 20 anos, durante este meu quinto mandato. Parabenizo a procuradora Anne pela iniciativa e pela mobilização na criação do Conselho Municipal de Promoção de Igualdade Racial, que visa combater o preconceito e garantir direitos iguais. A partir de agora, vamos trabalhar para envolver as entidades representativas da população negra da cidade e garantir que o Conselho atue desde o início. Estou feliz por contribuir com essa importante caminhada e apoiar as ações para promover a igualdade racial em Pato Branco”, disse ele.

Palestrantes

Rosana Demétrio Costa, do Coletivo Identidade Preta, apresentou dados sobre a população de Pato Branco convidando todos para pensarem sobre a realidade em que vivem e juntarem-se para melhorá-la. “Estou muito lisonjeada de participar desse evento e representar nosso Coletivo. Moro em Pato Branco há 11 anos e, apesar de ser bem acolhida, percebi a discriminação racial desde o início. Fui questionada sobre a existência de racismo na cidade, mas a realidade é que ele está presente, e muitas vezes as pessoas evitam se identificar como negras ou pardas. Segundo o IBGE de 2022, Pato Branco tem 91 mil habitantes, com 2.288 pessoas autodeclaradas negras e 27.299 pardas. Esses números revelam a dificuldade de muitos em se reconhecerem como negros. Em empresas e outros espaços, a presença de negros é invisível, o que reflete uma discriminação estrutural. O objetivo do Coletivo é garantir que possamos ocupar espaços e sermos reconhecidos, sem medo de afirmar nossa identidade. A verdadeira igualdade racial só será alcançada quando todos, negros e brancos, apoiarem o antirracismo”, ressaltou Rosana.

O artista Kalu Chueiri, falou sobre sua obra, no Largo da Liberdade, “o monumento chamado "Acolhimento" homenageia os refugiados e imigrantes que chegaram a Pato Branco, como os ucranianos, haitianos, cubanos e venezuelanos. A figura masculina representa um refugiado ucraniano, enquanto a figura feminina, de uma mulher negra, simboliza a recepção dos migrantes. A escultura mostra um patinho nas mãos da mulher, representando o carinho pela cidade que a acolheu, e uma criança olhando para o futuro com esperança. O monumento é uma homenagem à diversidade e à importância dos imigrantes para a cidade”, contou o artista que, no ato, também representou a Academia de Letras e Artes de Pato Branco (ALAP).

Eduardo Filho, diretor estadual de Igualdade Racial, Povos e Comunidades Tradicionais da Secretaria Estadual da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa (SEMIPI) apresentou a “Perspectiva sobre as Políticas Públicas estaduais para a equidade racial e de gênero”. “É uma alegria estar em Pato Branco e compartilhar o trabalho da SEMIPI. A luta pela igualdade racial, pela mulher e pelo idoso é um desafio histórico que exige dedicação de todos nós. A partir da nossa história de superação, precisamos garantir direitos e políticas públicas para impactar a sociedade, combater o racismo estrutural e promover a equidade. A criação do Conselho da Igualdade Racial em Pato Branco é um passo importante e o Governo do Estado tem se empenhado na promoção de políticas públicas para a igualdade racial e, este ano, irá repassar recursos para os municípios. A discriminação racial e o racismo religioso são desafios constantes, especialmente para mulheres negras e imigrantes. Precisamos desconstituir o racismo estrutural e trabalhar juntos para construir uma sociedade mais justa e inclusiva”, avaliou Eduardo que, juntamente com a professora e assessora da SEMIPI, Clemilda Santiago Neto, anunciou que este ano, sob a liderança dela, eles estão elaborando o novo Estatuto da Igualdade Racial do Estado do Paraná.

Para finalizar, a professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) - Campus Pato Branco, Maria de Lourdes Bernartt, falou sobre o acolhimento aos migrantes. “A migração faz parte da história da humanidade, e todos nós somos, de alguma forma, migrantes. O Brasil é um país de migrantes, desde a chegada dos portugueses até as ondas migratórias mais recentes, com pessoas buscando melhores condições de vida. Muitos imigrantes chegam a Pato Branco, e é importante refletir sobre como acolhemos essas pessoas. O que motiva a migração é a busca por sobrevivência e melhores condições, algo que todos desejam. O Brasil não é mais apenas um país de imigração, mas de trânsito, com diversas nacionalidades presentes. No entanto, é necessário discutir e questionar o real acolhimento e os desafios enfrentados pelos migrantes, incluindo a discriminação e violência, tanto física quanto simbólica. A luta pela dignidade e pelos direitos dos migrantes deve ser uma prioridade, especialmente nas universidades e na sociedade. Não podemos nos calar diante das injustiças e precisamos educar para a solidariedade e respeito aos migrantes”, pediu a professora.

Vivências

O evento encerrou após os depoimentos de Silvia Cristina Leão Schreiber e Mariana Salles Machado Hirche, que compartilharam suas vivências. A primeira, enquanto negra e migrante, que saiu de sua cidade natal em busca de melhores condições de trabalho e, atualmente, casada e com filho, é professora concursada do Município e, a segunda, mãe solo, também saiu de sua cidade natal e veio para Pato Branco para atuar como jornalista e, com isso, dar melhor suporte e qualidade de vida aos dois filhos.